LarMontessori.com

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Facebook: Montessori para Mamães

Você gostaria de participar de conversas com muitas mães, pais e educadores sobre o método Montessori e sua aplicação em casa? Além dos artigos aqui do Lar, você pode participar do grupo Montessori para Mamães, no Facebook.
Você vai ser muito bem recebido(a) lá! Hoje, aniversário de Montessori, estamos chegando a 2.000 membros, junte-se você também!

Abraços,
Gabriel


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

À mãe os filhos dizem: Obrigado

Qual não foi minha alegria quando, hoje, visitando a página do Google, deparei-me com isto:
Hoje mais cedo eu havia feito um discurso na PRIMA - Escola Montessori de São Paulo, encerrando o Sarau de Aniversário da escola e de Maria Montessori, e já estava bastante emocionado com muita coisa. O grupo Montessori para Mamães, sob a organização de Nádia M. Monteiro está organizando uma divulgação massiva de Montessori para este dia 31 de agosto, e isso também me emocionava, quando entrei no Google e vi o desenho acima.

É uma homenagem, justa e bela, a Maria Montessori. Um Doodle, feito pela empresa de dois dos maiores exemplos de alunos montessorianos. Recentemente, no livro In the Plex, sobre a empresa, é dito que seria impossível entender a Google sem saber que seus dois criadores estudaram em Montessori.

A forma do Google dizer "obrigado" é esta: oferecer àqueles que realizam as três milhões de buscas diárias em seu serviço a possibilidade de conhecer a responsável pela educação que tiveram seus fundadores.

Escreveremos mais tarde um texto de agradecimento a Maria Montessori também, mas por enquanto deixamos nossa admiração aos filhos tão caros que publicamente agradecem.

Até mais tarde,
Gabriel


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Imaginação e Fantasia: Datas comemorativas


Maria Montessori era uma corajosa defensora da imaginação na primeira infância. Ela diz em seu A criança, a Sociedade e o Mundo que "A imaginação é a verdadeira substância da inteligência. Toda a teoria e todo o progresso vêm da capacidade mental de reconstruir alguma coisa" (eu descobri isso aqui).

Uma dúvida frequente sobre o método Montessori trata da presença, ou ausência, de brincadeiras de faz-de-conta em escolas montessorianas e também sobre a (ir)relevância de contos de fada e personagens de fantasia em datas específicas do nosso calendário. Neste artigo vamos começar por explicar como Montessori compreende a imaginação, em oposição ao conceito de fantasia e em seguida comentar comemorações de datas que em geral trazem personagens mágicos.

Abaporu
Nós, adultos, imaginamos a partir da realidade. Uma pintura como "Abaporu", de Tarsila do Amaral, um poema como "Os Sinos", de Manuel Bandeira ou mesmo uma música de letra quase surrealista, como "Livros" de Caetano Veloso são peças de imaginação construidas a partir da observação atenta e aprofundada da realidade do mundo. Quando desejamos trabalhar a nossa imaginação, para escrever um poema, compor uma música ou pintar um quadro, o que fazemos é ir a um local que seja adequado aos nossos propósitos, permanecer em um silêncio concentrado típico de quem observa e então iniciamos a tradução do mundo em arte.

Com a criança, o mesmo deve acontecer. A imaginação infantil se desenvolve com base no conhecimento da realidade, e toda a educação montessoriana é baseada no conhecimento e na categorizarão do mundo real. Para que Olavo Bilac escrevesse "Ouvir Estrelas" não foi necessário que ele acreditasse que as estrelas realmente falavam. Bilac sabia que estrelas são corpos celestes, e talvez soubesse que estão muito distantes da Terra e que várias delas, na verdade, já morreram. Mesmo assim, do ponto de vista lírico, as estrelas transmitem mensagens às quais é necessário ouvir com amor.

Se, no entanto, o nosso poeta parnasiano tivesse ouvido durante toda a vida que as estrelas de fato transmitem mensagem, o que haveria de poético em dizê-lo? O que haveria de criativo se aquilo que ele diria em belíssimos versos nada mais fosse do que o que todos sabiam, ou acreditavam?

O mesmo se dá com a imaginação da criança. Ela não é bela se não for criada pela criança. Se a criança diz que crê na Fada do Dente porque seus pais a fizeram acreditar que essa fada existe, não há imaginação envolvida no processo. A criança, neste caso, crê, e crê em algo que todos sabem que, em última instância, é mentira, menos ela. Quando uma criança consegue realmente criar, desenhar algo a partir da realidade, criar pequenos versinhos, cantar para o irmão mais novo dormir, isso é belo, porque é fruto do esforço da criança de elaborar uma super-realidade a partir do que ela observa.

A imposição de peças da fantasia adulta sobre a criança não ajudam na criação da super-realidade, mas geram, isto sim, uma a-realidade, que por sua vez impede a criança de ver o mundo como ele realmente é. Uma criança que brinca de ser uma princesa ou de ser um cachorrinho pode encarar a brincadeira de duas formas diferentes: em um caso não lhe faz diferença ser princesa ou cachorro, e aí sabemos que trata-se de um faz-de-conta inofensivo porque é evidente que é faz-de-conta. Em outro caso, a criança pode se recusar a ser o cachorrinho e impor sua vontade (condicionada, em geral, pelos pais, pela TV ou pela escola) de ser a princesa todas as vezes: neste caso, a percepção do faz-de-conta não é clara, e é a ilusão de realidade que leva a criança a desejar brincar de faz-de-conta - brincadeira que, para ela, nada tem de imaginativa, mas sim de substituição a uma realidade que não a satisfaz.

O faz-de-conta saudável, assim como o desenho de observação, a escrita e diversas outras formas de arte são, para Montessori, imaginação. A crença imposta em personagens variadas, o faz-de-conta ilusório e até o medo de seres mágicos são formas de fantasia. A primeira se desenvolve naturalmente quando a criança é deixada em liberdade, a segunda surge a partir da vontade do adulto.

Datas comemorativas são convenções sociais com símbolos criados muito antes de a criança nascer e sobre os quais ela não tem nenhum poder - e os quais ela deve conhecer, reconhecer e compreender. Ainda assim, o significado destes símbolos é individual, e a criança deve ser deixada em liberdade para significá-los como lhe for mais natural, em vez de ter de aceitar passivamente a interpretação dos adultos para símbolos que ela só está aos poucos vindo a conhecer.

As comemorações do período da páscoa, no nossa calendário, são em geral celebrações que envolvem meditação sobre ações passadas e esperança quanto a tempos futuros. Alguns atribuem esta meditação a eventos na vida de algum profeta religioso, outros não, e alguns preferem não comemorar a data. O mesmo acontece com as comemorações de dezembro, que em geral servem às meditações de caridade e perdão. Realizá-las é opcional, claro, e o que fazer nelas também.

Contar histórias para as crianças é uma forma de dar a elas possibilidades de contato com o mundo. A criança acredita em nossas histórias e é só assim que ela pode conhecer aquilo que é muito distante no tempo ou no espaço - é uma forma de contato com o mundo mais sutil e difícil, mas tão válida e útil em alguns casos quanto o manuseio de materiais sensoriais. Assim, devemos cuidar para só contar à criança histórias nas quais ela possa acreditar.

Contar a história do Papai Noel, por meio de São Nicolau, ou a do coelho da Páscoa recuperando o antigo costume russo de presentear ovos pintados é dar à criança a origem de costumes sociais, e não tem nada de nocivo. Nocivo é fazê-la acreditar que há uma espécie de coelho que põe ou faz ovos de chocolate e os entrega, assim como um senhor idoso que viaja a partir do Pólo Norte para o mundo todo em uma só noite voando em um trenó puxado por quadrúpedes típicos de regiões temperadas.

Shiva, divindade hindu
Por fim, gostaria de abordar o tema delicadíssimo da religião nas datas comemorativas. Algumas famílias acreditam em Jesus Cristo, outras em Moisés, algumas em Buda, Tao, Shiva ou na Grande Mãe. Nenhum destes profetas ou divindades é fruto da fantasia. São, para aqueles que crêem, formas supremas da verdade - em alguns casos, um dos nomes da divindade é, justamente, "Verdade". Assim, contar a história destas crenças não é errado do ponto de vista montessoriano, porque estamos dando à criança a forma de contato possível com uma verdade não-sensorial.

Para famílias que não crêem em nenhuma forma religiosa, não há porque inseri-las na comemoração, a não ser pelo ponto de vista cultural, como se faz com São Nicolau ou os ovos coloridos da Páscoa. Para aquelas que crêem, no entanto, é importante ressaltar: a liberdade da criança deve sempre prevalecer, e ela pode, se achar por bem, não acreditar em nada ou desejar não participar das orações - isto deve ser encarado com compreensão, e não só com tolerância, e devemos permitir à criança simplesmente permanecer de forma educada no mesmo ambiente que seus iguais, sem tomar parte nas solicitações que os hábitos culturais, e mais nada, exigiriam dela.
Crianças trabalhando em um
lar Montessori

Espero que a diferença entre imaginação e fantasia tenha ficado bastante clara, e me coloco, como sempre, à disposição para responder quaisquer dúvidas, ressaltando sempre que o objetivo do Lar Montessori é oferecer uma possibilidade de compreensão do desenvolvimento da criança e de respeito a isso, e não dizer que esta é a única possibilidade ou que só nossos princípios devem ser respeitados.

Contamos com os seus depoimentos sobre como funcionam as comemorações na sua casa! Até mais!