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terça-feira, 20 de março de 2012

Dia do blogueiro! (e eu só descobri agora!)

Vejam como são as coisas!

Passei o dia todo vivendo normalmente e descubro só agora, quase deitando a cabeça no travesseiro, que é dia do blogueiro!
Eu sei que mensagens assim pessoais e diretas não são comuns no Lar Montessori. Mas, meus leitores queridos, vocês fizeram o Lar Montessori chegar entre os 100 blogs de Educação mais lidos do Brasil. Vocês fizeram o Lar Montessori ter 5.000 visitas, vocês fizeram o Lar Montessori atingir 100 visitas por dia (é nossa média recentemente). Vocês fizeram o Lar Montessori ficar grande o suficiente para ser lembrado fora do Brasil, e hoje recebemos visitas de países de língua portuguesa pelo mundo todo e o grupo Montessori MadMen está nos incentivando a escrever em inglês também!

Vocês estão comentando bastante e graças às visitas, aos comentários e aos compartilhamentos, estamos ganhando seguidores com frequência!

Muito obrigado, queridos, muito obrigado de verdade! Escrever para vocês é tudo de bom!

Agradeço especialmente aos blogs Ciranda Materna e Segredos de Mamãe, que nos citaram e enviaram mais de uma centena de visitantes nos últimos dias.

Sintam-se abraçados e recebam votos de gratidão a vocês e seus pimpolhos!

Gabriel


domingo, 18 de março de 2012

Passeios à Natureza - Amando e Conhecendo o Universo

Você leva suas crianças a parques? Se sim, parabéns! Se não, tire um tempinho para fazer isso com alguma frequência. O contato com a natureza é fundamental para o desenvolvimento do seu filho. Parques, praças e bosques, assim como praias, oferecem ambientes com muitos estímulos sensoriais para os pequenos, mas de forma suave, sem poluição visual ou sonora.


O contato com a natureza oferece uma quantidade muito grande de possibilidades e assim desperta a curiosidade a um ponto que a casa dificilmente conseguiria. Um dia no parque pode plantar sementes de curiosidade e questões para uma semana inteira, dependendo da idade da criança (isso é especialmente verdadeiro para a faixa etária de três a seis anos). Esteja preparado para responder a estas questões e voltar à natureza em seguida.


Quando a criança é muito pequena, é bom ir ao parque de manhã, quando o sol é fraco e ela está bem desperta, assim pode-se sentar na grama, e ela pode brincar um pouquinho com o entorno, mesmo que não possa se aventurar muito longe. Ficar perto de uma árvore é uma boa ideia, já que só um pequeno espaço incluindo a árvore oferece sombra, raizes, tronco (e sua casca), folhas, terra, grama e quem sabe frutos ou flores. Insetos estarão por perto também, não tema todos eles. Pequenos besouros, joaninhas, grilos ou gafanhotos, borboletas e bicos-pau não são arriscados e maravilham qualquer pequeno explorador.


É claro que é bom evitar abelhas (se as cores que vocês vestirem forem suaves e não houver açúcar nas comidas e bebidas, elas não vão aparecer) e se você não conhecer quais aranhas picam e quais não, espante todas. Mas pare por aí, outros bichinhos são mais uma fonte de conhecimento do mundo do que uma ameaça.


Montessori dizia que não é suficiente amar a criança. É necessário antes conhecer e amar o universo. Ame o universo. Procure se maravilhar com a natureza, assim como seu filho, adote de novo o olhar do explorador, que acha incrível uma folha avermelhada e se surpreende com um pássaro colorido. Mostre essas coisas a ele, não como um professor, mas como alguém que também acha tudo aquilo belo e surpreendente.


Permita que a criança passeie, que pare onde mais lhe interessar, que pegue coisas, que se suje um pouco (ou muito, a depender da sua tolerância), que fique muito tempo parada olhando algo que você sequer percebeu que existia ou que simplesmente não olhe para algo que fascinou muito a você. A maneira de pensar e de ver deles são muito diferentes da sua.



Mostre ao seu filho, nas próximas idas ao parque, como a natureza funciona. De forma descontraida e informal, mostre os ninhos dos passarinhos e explique que são as casas deles, mostre girinos e explique que são os filhotes do sapo, mostre as abelhas e as borboletas nas flores e explique que estão se alimentando e fazendo mel. Com o tempo, explicar a polinização pode ser muito interessante. Sim, você vai ter que estudar muita coisa de novo, mas não vale a pena? Para maravilhar sua criança com a natureza?


Algumas crianças, especialmente as mais velhas, podem recusar-se a ir ao parque ou ao bosque, dizendo que preferem ir ao shopping, ao parque-de-diversões ou à casa de um amiguinho. Embora nenhum desses passeios seja reprovável em si (não recomendamos o shopping para crianças, é excesso de estímulo), é importante que os pequenos saibam admirar o silêncio, perceber um canto de passarinho e o zumbido de uma mosca ou uma abelha. Só por meio do contato com a natureza é possível amá-la, e só por meio do amor a ela é possível respeitá-la - assim, se você quiser que seu filho saiba preservar o ambiente em que vive, mais um motivo para dar a ele oportunidades de curtir esse mesmo ambiente.


As maravilhas e as surpresas da praia são outras, e tão belas quanto as do parque. Quando der, leve seu filho, mesmo muito pequeno, ao mar. Brinquem nas primeiras ondas, molhem-se, façam castelinhos de areia e peguem caranguejinhos e conchas. Tudo isso ensina. Com tudo isso se aprende.


A textura da areia e as cores dela, o fato de nem sempre o castelo ficar de pé, a dificuldade de pegar um animalzinho que se mexe e o material de que é feito uma concha (assim como o brilho da parte de dentro dela) são aprendizados para a criança pequena. Pode ser que surja uma coleção de conchas, neste caso, tente descobrir os nomes delas e ensine-os ao seu filho. Crianças adoram categorizar coisas e estão em uma excelente idade para adquirir vocabulário, inclusive o científico, que não tem nada de difícil, e assim parece para nós por puro preconceito. Levar a criança um pouquinho mais velha (trës ou quatro anos pelo menos) até aquários pode ser fantástico também. 




O terceiro fascínio natural a que podemos e devemos expor a criança é o céu. Se houver a possibilidade de uma viagem curta até um local com pouca luminosidade (casas de familiares no interior, ou uma praia menos popular, por exemplo), mostre as estrelas, a Via-Láctea, identifique constelações e dê os nomes e as histórias delas aos pequenos. Amem e conheçam o universo.


Viver no Brasil tem muitas vantagens neste ponto. Nosso país é privilegiado naturalmente e oferece-nos uma abundância inimaginável de biodiversidade. Além disso, nós temos um escritor infantil que mostrou de forma belíssima as belezas e a perfeição da natureza em seus livros. Monteiro Lobato, especialmente em "A Chave do Tamanho", "Reforma da Natureza" e "Viagem ao Céu" mostrou como o mundo natural e o universo podem ser formidáveis. É uma boa ideia ler os livros com seus filhos de quatro a dez anos.


Quando forem ao parque, tirem fotos! Vai valer a pena mais tarde. E se você quiser, mande para a gente, e publicamos aqui. Envie para gabrielmsalomao@gmail.com contanto como foi o passeio e o que vocês viram de interessante.


Bom passeio!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Sorteio!

Mamães e papais,

estou pensando em um sorteio!

Por enquanto, as possibilidades são:
1. Uma edição encadernada do livro "Introdução ao Método Montessori";
2. Uma edição encadernada do livro "Filhos da Terra", traduzido por mim;
3. Uma cesta dos tesouros com alguns objetos interessantes;
4. Uma visita de meio dia para ajudar a adaptar a casa e conversar sobre o seu filho¹.

Digam-me qual opção vocês preferem! ;)

¹Se você morar muito longe, fazemos isso via computador, por vídeo-conferência, gravações da sua casa e fotografias!


A Criança para Montessori

Este é o terceiro capítulo do livro "Introdução ao Método Montessori", a ser publicado em 2012. Depois de ler, diga se foi útil, se foi agradável, se há problemas ou dúvidas. Eu espero seu retorno!

~.~

A Criança para Montessori

"A educação da criança muito pequena,portanto, não visa
prepará-la para a escola, mas para a vida". (Montessori, 1967)

Quando Montessori inciou seu trabalho com crianças pequenas, não tinha nenhuma ideia pré-concebida, portanto, nenhum preconceito acerca da natureza da criança ou do que seria melhor para cada idade. Todo o seu trabalho foi desenvolvido tendo como base a observação do desenvolvimento infantil.

Montessori percebeu que a criança pequena (0-6 anos) tem algumas características sempre presentes, em qualquer classe social, etnia ou localização geográfica. E.M. Standing fez uma revisão da obra de Montessori e identificou estas características:

  •  Amor à ordem;
  •  Amor ao trabalho;
  •  Concentração espontânea;
  •  Apreensão da realidade;
  •  Amor ao silêncio e ao trabalho solitário;
  •  Sublimação do instinto de possessividade;
  •  Poder de agir por escolha;
  •  Obediência;
  •  Independência e iniciativa;
  •  Auto-disciplina espontânea;
  •  Alegria.


Como Montessori era uma cientista, antes de ser uma educadora ou uma ativista social, seu interesse maior era descobrir a criança, e não formatá-la. Daí podermos considerar naturais as características encontradas pela médica.

Montessori dizia que toda criança nasce com estas características, todas quando muito pequenas gostam de ambientes silenciosos, procuram estar ativas (interna ou externamente), são muito concentradas - e para isto basta ver uma criança pequena brincando de algo que lhe agrade -, o tempo todo querem entender o que se passa à volta delas, quando algo lhes desperta real interesse, passam muito tempo sozinhas em torno de seu foco de investigação, não têm noção clara de posse, não possuem rebeldia inata, por si mesmas aprendem a andar e falar, ainda que não ajudemos, sabem fazer muitas coisas e a hora de fazê-las, sem ninguém ensinar, e são alegres.

Muitas vezes, estas características parecem frutos de uma boa educação formal, mas na verdade estão presentes na criança sempre que ela é deixada em liberdade. Montessori considerava que as Casas das Crianças não eram formadoras, mas possibilitavam a construção da liberdade pela criança, de forma que aquelas belas características que haviam sido adormecidas por uma criação repressora em casa ou em outra escola voltassem à tona, desta vez de forma ordenada e em um ambiente preparado para elas.

Depois de observar crianças por muitos anos, em locais que Montessori considerava adequados ao pleno desenvolvimento de sua natureza, a pedagoga chegou à completude do diagrama abaixo:


De forma sucinta, as fases em azul são mais agitadas, de crescimento intelecto-sócio-emocional mais intenso e exigem tanto do ser em desenvolvimento que por vezes ele precisa de silêncio e solidão, pois está tentando absorver tudo o que seu corpo e intelecto exigem. Em uma escala crescente, no entanto, a criança se torna um adolescente e um adulto cada vez mais sociável.

Considerando as mudanças que ocorrem em alguns momentos da vida da criança, Montessori via não ser exagero dizer que "O crescimento é uma sucessão de nascimentos". Dizia que, "Num certo período da vida, uma individualidade psíquica acaba e outra nasce". Em todas as fases a ordem maior é proporcionar um ambiente preparado para a criança, com adultos preparados também, e depois deixar a criança livre para se desenvolver.

Na fase que vai de zero a seis (0-6) anos, a criança tem uma Mente Absorvente, estando pronta a absorver tudo o que vier do ambiente. "Este período é caracterizado pelas grandes transformações que têm lugar no indivíduo", pois a criança aprende sem ser ensinada quase todas as habilidades necessárias à sua sobrevivência: come, anda, pega, fala, controla a própria atividade biológica até um certo limite e aprende a viver socialmente, ainda que com restrições impostas pelos adultos.

Há, na fase da Mente Absorvente, duas sub-fases: a primeira, de zero a três (0-3) anos, é inacessível para o adulto, não se pode exercer nenhuma influência direta sobre esta criança. Na segunda sub-fase a mente ainda é absorvente, mas agora já é acessível ao adulto - não é de se estranhar que por muitos anos a educação formal no Brasil tenha se iniciado aos seis anos, já que só então o adulto é plenamente capaz de acessar a mente da criança.

O período seguinte, de seis a doze (6-12) anos, é de crescimento, mas sem transformações, "é um período calmo e sereno". Embora haja mudanças, não há nesta época nada que possamos chamar de "nascimento", como ocorre aos seis anos.

Chamamos a terceira fase, de 12 a 18 anos, de "Filhos da Terra". Nesta época, ocorrem tantas transformações "que nos lembra a primeira fase". Assim como a Mente Absorvente, os Filhos da Terra têm duas sub-fases: a primeira dos doze aos quinze (12-15) anos, é de maior aprendizado e mais transformações, e a segunda, dos quinze aos dezoito (15-18) é aquela que prepara o indivíduo para a sociedade humana. Sobre a terceira fase, Montessori dizia que o homem deve aprender a criar, a cultivar, a desenvolver. Depois de estar plenamente desenvolvido, é hora de participar da comunidade, daí as ideias de Montessori de que se deve dar ao adolescente a oportunidade de agir socialmente, compreendendo os caminhos da produção e da economia, assim como percebendo as diferenças sociais e buscando soluções para problemas.

No período que vai dos doze aos dezoito anos, foram identificadas algumas características extremamente comuns (Donahoe, 2010), entre crianças que foram deixadas livres para se desenvolver em um ambiente preparado:

  •  Alegria;
  •  Altruísmo;
  •  Otimismo;
  •  Confiança;
  •  Dignidade;
  •  Auto-disciplina;
  •  Independência e iniciativa;
  •  Vontade de ser útil;
  •  Bom senso;
  •  Habilidade de trabalhar com os outros.


A maior parte das pesquisas de Maria Montessori se desenvolveram com crianças de 0 a 6 anos, e ainda bastante com aquelas de 6 a 12. Após os doze anos, no entanto, Montessori pesquisou muito pouco¹ e disse que apoiava as pesquisas que estavam sendo feitas levando em consideração seus princípios. Há muito mais descobertas interessantes sobre adolescentes vindo de pesquisadores de linha montessoriana do que da própria criadora do método.


Gabriel García Márquez, grande escritor e Nobel de Literatura, foi aluno Montessori e disse, depois de adulto:
"Eu não creio que haja método melhor que Montessori para fazer as crianças sensíveis às belezas do mundo e despertar sua curiosidade sobre os segredos da vida".



__
STANDING, E.M. - Maria Montessori: Her Life and Work. New York: New American Library, 1962.
MONTESSORI, Maria - The Absorbent Mind. Lexington: BN Publishing, 2011.
DONAHOE, Marta - Liberty and Hope for the Adolescent: Valorization of the Personality, 2010.

¹Publicaremos em forma de e-book a tradução de "Filhos da Terra", reflexões de Maria Montessori acerca do desenvolvimento e da educação do adolescente, ainda em 2012.