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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Quarto Montessoriano

Para compreender melhor este artigo visite o blog
"How we Montessori" clicando nas poucas
fotos que colocamos. São todas de lá, e são excelentes!

Em vários artigos deste blog o quarto montessoriano é mencionado, mas percebi há poucos dias que em nenhum dos textos eu o detalhei com cuidado. Como há alguns dias o iG Delas publicou uma reportagem sobre a não-necessidade do berço no quarto infantil e nos citou como uma das referências, achei uma boa ideia escrever, pela primeira vez, um texto em detalhes sobre o quarto da criança em Montessori.

O primeiro passo para a montagem de um quarto infantil é adotar o ponto de vista da criança. Aquilo que ela puder acessar deve ficar ao nível de suas mãos. Os brinquedos dela são dela, e podem ser deixados em prateleiras baixas o suficiente para que os alcance. O mesmo se pode dizer de suas roupas. Se queremos que a criança se vista sozinha um dia, e saiba escolher o que vestir, devemos deixar pelo menos algumas de suas peças disponíveis para o acesso.

O ponto de vista da criança não é só a altura de seus olhos ou o alcance de seus braços, mas o comprimento de suas pernas. Um quarto muito grande no qual haja brinquedos e materiais por todas as paredes é pouco prático, caro, dá trabalho para limpar e organizar e a criança não consegue de nenhuma forma controle total sobre seu ambiente.

Então, aqui, vamos abordar três grandes tópicos:
1. A Cama
2. A Mobília
3. Os Estímulos

A cama da criança pode ser mesmo uma cama. Não precisa ser um berço, e eu vou dizer isso de novo: não precisa ser um berço. Quando comecei a estudar Montessori em casa, me parecia radical demais tirar o berço. Mas só é assim porque culturalmente somos criados para pensar que ele é necessário. Em dezenas de outras culturas (que não a branca ocidental), as crianças dormem no chão, em colchões ou almofadas dos mais variados tipos, a depender do povo. O que nós defendemos, com uma abundância de evidências positivas bastante animadora, é que a criança pode, sem risco de saúde ou segurança, dormir em um colchão, que pode ser colocado direito sobre o chão ou sobre um estrado baixo, para isolá-la da temperatura do piso.

Quando o bebê é pequeno, muitos pais gostam de proteger este colchão com almofadas, em volta, para que a criança não corra o risco de cair durante a noite. É uma boa ideia. Mas nenhuma cerca é necessária. A criança não precisa ficar presa se o quarto for adequado a ela, basta que fique segura. Algumas almofadas ou travesseiros em volta da cama durante a noite dão conta do recado - Durante o dia, deixe sem proteção, para que seja fácil para seu filho subir e descer da cama quando desejar.

Ao lado do colchão, você pode deixar um tapete longo, para que a criança não pise direto no chão gelado quando acordar. Isso não é uma recomendação estritamente montessoriana, mas a tensão imediata dos pés de manhã cedo pode ser bem desconfortável e tensionar o corpo todo em seguida. Se o quarto for pequeno, ou se o piso for de madeira, isso é menos necessário.

Alguns pais gostam de dormir com seus filhos nos primeiros meses. Embora haja algumas defesas bastante interessantes deste processo, do ponto de vista montessoriano e do ponto de vista da segurança existem alguns pontos a considerar: dormir com os pais gera segurança psicológica para a criança, é claro. Mas esta segurança pode sumir assim que ela tiver de dormir em outro móvel ou outro ambiente. Uma das consequências deste tipo de ação é que a criança gera uma dependência bastante alta para dormir e só consegue pegar no sono se for ninada, ou se for acompanhada pelos pais até a própria cama. Um dos muitos objetivos de uma cama baixa é que a criança possa se deitar quando sentir sono, sem depender em nada dos pais para isso. A prática de dividir a cama pode atrapalhar neste processo.

Do ponto de vista da segurança, por sua vez, existe o risco de sufocamento da criança, além da inibição da movimentação noturna do bebê. Sabemos que pode ser muito agradável dividir a cama, para você e para seu filho, mas o movimento noturno é necessário, faz parte das liberdades da criança, e deve ser completamente possível. Quanto ao sufocamento, embora pessoalmente eu ache difícil que um pai ou uma mãe sufoquem o filho sem perceber, a página americana do Instituto Nacional da Saúde da Criança e do Desenvolvimento Humano indica que há vários estudos apontando para a maior incidência de morte de crianças em camas compartilhadas por diversas causas. Entre elas estão uma coberta que sem querer cubra o bebê, e pais muito cansados (provavelmente porque podem não perceber seus próprios movimentos e os da criança). Fora isso, a cama dos pais é alta, e tira a liberdade de a criança sair dela quando quiser, caso acorde mais cedo, por exemplo, sem depender dos pais para nada. Por sua vez, a página da Nestlé para mães (que não é fenomenal, mas tem pontos interessantes) explica que pediatras indicam o compartilhamento do quarto durante os primeiros meses, mas não o da cama. Além disso, notícias tristes como as do Mail Online e especialmente do The Guardian nos alertam para os riscos do compartilhamento da cama.

Gosto de reforçar com frequência que o Lar Montessori não se propõe a ser sua única fonte de informações para a criação de seus filhos - ao mesmo tempo temos a reconfortante certeza de que não o somos. As famílias que nos visitam também costumam visitar muitas outras páginas, e isso propicia uma incrível troca de informações. Nos diga o que você pensa sobre a cama, porque isso realmente nos interessa!

Uma ressalva que merece ser feita: para a criança recém nascida, dormir no chão pode envolver alguns problemas. Em livros sobre Montessori produzidos no hemisfério norte e em locais menos tropicais, insetos não são considerados. Mas aqui podemos pensar neles e considerar que para os primeiros meses pode ser uma boa ideia um berço. Ele, no entanto, tem de ir embora rápido, por todos os motivos que a gente já conhece. Você pode fazer do berço uma escrivaninha, quando a criança crescer um pouco!

A mobília do quarto infantil é simples. Não é necessário haver nada muito sofisticado, mesmo! As crianças gostam de ser, muito mais que de ter. Se pudermos proporcionar a elas a possibilidade de se tornarem seres humanos plenamente desenvolvidos, isso já as satisfaz. Assim, poucas coisas são realmente necessárias no quarto infantil: um espelho horizontal baixinho; estantes baixinhas; uma barra na parede; espaço livre e uma janela (não precisa ser da altura da criança, pode ficar tranquila!).

O espelho é interessante por diversos motivos. A criança pequena gosta muito do rosto humano. Por algum motivo biológico mesmo, é algo que lhe agrada. Assim, poder ver um rosto humano a qualquer momento sempre é bom. Fora isso, é importante para o bebê reconhecer seu próprio rosto, as possibilidades de movimento dele e as partes de seu corpo. Isso não se dá de forma consciente e nem é um processo imediato. Demora. Mas não temos pressa. O tempo da criança é interno a ela e nossa tarefa é só ajudar. Fora isso, enxergar-se pode ajudar a criança a se reconhecer como indivíduo, auxiliando no desenvolvimento da autonomia e da força de vontade. Por motivos de segurança, o espelho precisa ser muito bem preso e pode ser de acrílico.

As estantes baixas não precisam ser construídas à parte - embora possam, se você assim o desejar, e isso só será positivo. Você pode adaptar os armários que já existem, tirando suas portas, colocando puxadores mais para baixo ou simplesmente deixando as portas sempre abertas. Usar as gavetas de baixo, geralmente abandonadas, para colocar as roupas da criança também é uma boa ideia. Você não precisa nem deve colocar todos os brinquedos e todas as roupas à disposição do seu filho de uma só vez. No livro Montessori: The Science Behind the Genius, Lillard explica que até seis opções são uma boa ideia, porque aumenta a sensação de bem estar da criança. Mais que isso começa a ser demais e muito mais que isso fica realmente confuso. Você pode praticar uma rotação de objetos e deixar sempre presentes aqueles que a criança gosta mais e ir trocando aqueles que ela escolha com menos frequência.

A barra na parede tem uma utilidade só: ajudar a criança a andar, sem depender da ajuda direta dos pais. Pode-se pendurar objetos nesta barra, com espaços de intervalo, para que a criança tenha objetivos a atingir quando tentar caminhar. A utilização da barra precisa ser ensinada, claro, devagar, passo a passo, e quando você perceber que seu filho está tentando levantar e dar os primeiros passos. Se não houver espaço para uma barra, é possível usar um móvel bem fixo como ajuda para este desenvolvimento. Duas precauções devem ser tomadas neste caso: primeiro devemos nos assegurar de que o móvel é mesmo bem fixo, e depois ficar atentos para que a criança não utilize outros móveis pela casa e nas casas dos outros, para fazer a mesma coisa, o que pode ser bastante complicado às vezes.

O espaço livre aumenta se o quarto é feito seguindo algumas dessas dicas. Diminuem os móveis, e a dimensão dos que sobram é menor. Assim, a criança tem mais espaço para brincar, aprender, se mover e ser livre. A janela é importante para que haja luz natural no quarto, que faz sempre bem. Não tem problema se neste quarto não bate tanto sol, mas se houver luz natural, sabemos que é mais confortável para os olhos e boa para a pele.

Os estímulos de que a criança precisa são sensoriais. Os brinquedos e os materiais, assim como os livros, não precisam ser muitos e nem muito sofisticados. Madeira e metal são os melhores materiais para brinquedos, porque realmente estimulam os sentidos, muito mais que plásticos. 

Um dos materiais mais interessantes para a criança pequena é a Cesta dos Tesouros, que você pode ver clicando no link. Para bebês novinhos, móbiles são uma boa ideia também - feitos com formas geométricas e cores fortes (fortes, não brilhantes), porque os pequenos gostam muito de contrastes evidentes e tentar alcançar as peças do móbile é bom para o desenvolvimento motor. Como durante um tempo razoável os bebês não enxergam longe, os móbiles podem ficar próximos da criança, a até 40cm de altura a partir do colchão, por exemplo, ou menos. Há de se tomar cuidado, somente, para que não seja alcançado muito facilmente a ponto de a criança poder puxar o móbile para baixo, o que poderia machucá-la.

Os livros não precisam, necessariamente, ser materiais sensoriais. Eles podem ser só de leitura, e o exercício de abrir, ver figuras e virar páginas já será interessante para a criança. Especialmente se os pais lerem para a criança e para si mesmos (é muito, muito importante que os pais leiam como atividade de lazer, sozinhos, para estimular a leitura nas crianças). Ainda assim, há alguns livros muito interessantes que trazem texturas, tecidos e outros adendos interessantes. Isso é bom. Os livros que trazem sons, no entanto, em geral são bem ruins. O som é estridente e bem artificial.

Para o estímulo auditivo vale a pena ter instrumentos musicais e um rádio, no qual podem tocar, por períodos do dia, músicas de compositores clássicos, em geral adorados pelos pequenos. Os instrumentos podem ser uma flautinha doce simples e boa, um violão, ou mesmo um chocalho, nos primeiros tempos.

~

Pronto. Acho que conseguimos dar uma boa ideia de como é um quarto infantil montessoriano. Este é um dos temas mais discutidos no grupo do Facebook "Montessori para Mamães", no qual papais e educadores também são muito bem vindos e você pode encontrar boas informações nos seguintes links:

Vídeo de um lindo bebê em uma cama montessoriana:
Reportagem do iG Delas:
Blog Potencial Gestante:
Montessoriando - Quartos para recém nascidos (Fantásticas ilustrações):
Montessori & Família (blog do Montessori para Mamães):

Textos do Lar Montessori sobre temas relacionados:
Respeito pela Criança:
O Sono:
Manual da Criança Montessori:
Preparação do Ambiente da Criança:

5 comentários:

  1. Excelente artigo!

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  2. Uau, Gabriel, achei corajoso de sua parte ahahaha
    Mas falando sério, ótimo artigo, que como todos os ótimos artigos, fomenta várias relfexões! Aqui partilhamos a cama com os bebês até dois anos, mais por praticidade (amamentação em livre demanda) que só pelo fato de ser agradável (mas é bom mesmo!). Aqui o esquema era o berço ao lado da cama, sem uma das grades, e assim que aprederam a andar, antes de 01 ano, eles já subiam e desciam com tranquilidade. A passagem para o quartinho deles, aos dois anos,foi sem traumas, na verdade, nos dois casos, foi com festa, eles adoraram ter seus próprios cantinhos, acho até que poderia ter sido antes, mas não pude por fatore$ diver$o$. Sobre ninar, sou adepta da teoria da extero-gestação, que você deve conhecer bem, então não acredito que issof gere qualquer tipo de insegurança, mas fortique o vínculo afetivo. Alguns pediatras não sabem a diferença :-) Hoje mesmo eu li um post muito interessante sobre sufocamente e segurança na cama compartilhada, no blog "As delícias do Dudu". Acho que foi um dos poucos, além do seu, que eu vi tratarem de forma objetiva sobre essa questão, sem fugir dos fatos. Será que posso partilhar o link aqui? ACho que sim, pois você falou sobre troca de informações, Dá uma olhada: http://www.asdeliciasdodudu.com.br/2012/07/cama-compartilhada-cc.html
    Não concordo com tudo que a autora ala, mas a parte sobre segurança é bem esclarecedora. Eu queria mesmo era ver a opinião da Nádia Mota Monteiro aqui, para saber se Montessori e Extero-Gstação são conciliáveis, já que ela defende as duas :-)

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  3. Cheguei aqui após procurar informações sobre gestação. Caí primeiro no potencial gestante e de lá acabei aqui. Estou até agora com um misto de sentimentos me impulsionando a querer entender e conhecer essa forma de dar à criança a capacidade do participar do mundo de maneira natural e suave. Há alguns dias conversava com minha mãe e irmã sobre o fato de não querer berço no quarto do meu filho. No mesmo momento em que falei fui praticamente apedrejada: "como pode um quarto sem berço? A criança vai dormir onde?" Eu dizia: "na cama." Mas eu só não sabia como faria para que a criança não caísse da cama, não sabia se colocava um colchão do lado ou barreiras nas laterais. Após ler esse post vou me empenhar em procurar mais informações sobre o colchão. Adorei os móveis à altura da criança, a barra na parede e os espelhos baixos, com eles o quarto realmente é para a criança e não para os adultos cuidarem das crianças. Ainda não sei se estou grávida, mas seu artigo me fez ter a certeza de que quero meu filho integrado ao mundo desde cedo, quero-o independente, curioso, capaz de pensar e concluir ideias sozinho. Continuarei lendo os posts antigos. Obrigada.

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  4. Olá Gabriel! Um novo mundo se abriu para mim desde ontem, quando comecei a ler sobre o metodo Montessori! A gente sempre acredita que está fazendo o melhor por nossos filhos e então, bum, descobrimos muitas coisas novas!!!
    Enfim, minha filha está com 02 anos, vai ao berçario desde os 7 meses e é extremamento independente, ou tenta ser..digo, adormece sozinha, se alimenta sozinha, essas coisas. Mas o acesso ao berço, ou a comida, por exemplo, ela não tem!!!
    Eu estou muito interessada em mudar isso, por exemplo iniciando com seu quarto, pois é um espaço muito grande para uma criança, mas que pode ser tão rico em oportunidades.
    Gostaria de sua ajuda no sentido de como fazer essa transformação aos poucos? Ela dorme no berço, sempre dormiu...NUNCA dormiu em outro ambiente durante a noite...Não sei como seria passa la para uma cama baixa neste momento...não quero ter gastos, então já estou pensando em coisas da casa para aproveitar...
    Mas enfim, o que quero saber é- mudamos tudo de uma vez, ou aos poucos?
    Na verdade ela fica pouco em seu quarto, pois moro em sobrado, então ficamos mais na sala- no ambiente de baixo, onde ela tem seu cantinho com brinquedos e tem acesso a todos eles...mas eles ficam numa caixa (isso sempre me icomodou, pois percebo que ela não sabe nem quais brinquedos tem). Isso vai mudar!

    Bom, é isso, agradeço se puder me orientar! Vou continuar lendo...

    Obrigada
    Juliana

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